Falar de amor, sobre o amor é sempre bom. Ainda
mais falar de um amor verdadeiro, puro, sem fantasias, que é aquele amor
entendido a luz da palavra de Deus. Vamos lá?
“Disse-lhe
terceira vez: Simão, filho de Jonas, amas-me? Simão entristeceu-se por lhe ter
dito terceira vez: Amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu
te amo. Jesus disse-lhe: Apascenta as minhas ovelhas” (João 21:17)
“Mas, como está escrito: As coisas que o olho
não viu, e o ouvido não ouviram, e não subiram ao coração do homem são as que
Deus preparou para os que o amam” (I Coríntios 2:9).
Pedro fazia parte do ciclo íntimo de Jesus e,
como tinha um caráter maleável, estava ainda sendo tratado pelo Mestre.
Permaneceu inconstante em todo o ministério de Jesus e assim foi até a sua
morte na cruz quando o mesmo o negou três vezes.
Mas no capítulo 21 de João, Jesus havia já
ressuscitado e se revelado a toda sua igreja e, sendo assim, Pedro seria
intimamente tocado pelo Senhor Jesus. Interessante que Pedro estava satisfeito
com o que seus olhos viam e com o que seus ouvidos ouviam, pois o mestre estava
ali ressurreto e glorificado, tanto que na primeira pergunta de Jesus para ele
foi fácil responder: “Senhor, tu sabes que te amo”.
Mas, como Pedro era bastante maleável, no
mesmo capítulo, no versículo 3, Pedro havia dito: “vou pescar”. Ainda não tinha
entendido o seu chamado e a sua ordenação e, por pouco, voltava à pesca e ao
lugar de onde Cristo havia o tirado. Diante de um momento confuso, Pedro estava
regressando ao seu lugar de origem.
Mas Jesus estava ali e tinha um propósito na
vida de Pedro, pois, embora seja fácil para nós esquecermos o chamado e as
promessas de Deus, o mesmo Deus não muda e mantém firme a sua Palavra. Jesus
chamava Pedro, então, para uma conversa que marcaria muito sua vida.
Jesus, diante da congregação, chama Pedro e
pergunta: “Simão Pedro, amas-me?”. Jesus queria ouvir da boca de Pedro sobre
esse amor.
Sobre o amor que Jesus questionou a Pedro na
primeira e na segunda pergunta é importante afirmar que se trata de um amor
interessante e maravilhoso. O termo usado foi “agapao” de “ágape”. Era um termo
muito abrangente, tão abrangente que o homem Pedro teve certa facilidade em
responder. O termo “agapao” de “ágape” nos ensina sobre um amor muito profundo
e remete sempre ao amor de Deus ao homem, amor de Cristo à Igreja, etc. É
aquele amor que estamos acostumados a cantar em louvores. Muitos estampam esse
amor em camisas, outros falam tão facilmente em seus sermões. É o amor que um
dia o Senhor Deus nos amou, por isso não requer de nós tão grande compromisso,
afinal, Deus nos amou e isso não muda. Ele nos amou primeiro.
Trata-se também de um amor moral e social,
mas, demonstra um amor profundo que levou o próprio Cristo se entregar pela
Igreja. Não houve nenhum trabalho nosso para que fosse cumprido o plano da
redenção, aliás, a única participação nossa foi no pecado que levou o Filho do
Homem à cruz. Então, hoje nos é fácil abrir a boca e dizer: “Senhor, eu te
amo”! Muitos fazem com sincera devoção, outros nem tanto.
Naquela circunstancia onde se encontrava
Pedro estava fácil e propício responder a essas duas perguntas de Jesus: “te
amo”, pois se tratava de um amor ainda superficial para Pedro (mesmo no seu
significado profundo).
Muitos têm respondido as duas primeiras
perguntas de Cristo, mas não conseguem responder a terceira.
As duas perguntas iniciais estão sendo
respondidas nas camisas com inscrições de “Deus é fiel”, “eu amo Jesus”, nas
bandeiras e faixas da ‘Marcha pra Jesus’, tem sido respondidas nos shows
evangélicos onde muitos choram e se quebrantam de emoção, etc.
Essas duas primeiras perguntas não
entristeceram a Pedro porque parecia óbvio responder naquela hora: “Eu te amo,
Jesus”, pois Pedro estava ali cara a cara com o seu Mestre e no meio da
congregação.
Mas, independente da resposta sendo fácil ou
não, Jesus escutou-a com amor e disse: “APASCENTA AS MINHAS OVELHAS”. Jesus
estava passando a responsabilidade para a Igreja, pois Ele iria ao Pai. A
tarefa de levar o Evangelho e apascentar seria, a partir daquele momento, da
Igreja. Mas para que esse trabalho venha a ser feito, temos que conhecer esse
amor perguntando nas duas primeiras perguntas. Correspondia ao amor de Cristo à
sua Igreja, agora a mesma igreja teria que amar e trabalhar para aqueles que
ainda viriam pertencer ao rebanho de Deus, pois eram os amados e escolhidos do
Senhor.
“Ainda que eu falasse as línguas dos homens e
dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o sino que
tine”. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e
toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse
os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse toda a
minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para
ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é
sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade,
não se ensoberbece.
“Não
se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não
suspeita mal; Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; Tudo sofre,
tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. (1 Coríntios 13:1-7).
A obra de Deus é realizada com amor. Mas a
terceira pergunta entristeceu muito a Pedro, porque se tratava já de outro tipo
de amor, muito mais envolvente e que, diferente do amor nas duas primeiras
perguntas, envolvia nesse a participação do crente. “Disse-lhe terceira vez:
Simão, filho de Jonas, amas-me”? O amor que foi empregado na terceira pergunta
já era diferente das duas primeiras. Tratava-se do amor “Phileo”.
Phileo, na verdade, é um resultado de ágape.
Ágape é um termo abrangente e conhecido como um amor superior na cultura
cristã, porem Phileo é o amor ágape na prática diária. É a prova de que se ama
de forma ágape. Poderíamos até arriscar dizer que ‘agapao’ é um amor abrangente
e teórico, teológico, ético, social e moral, mas, Phileo é a prática disso
tudo. Não parte e nem nasce propriamente do homem, mas lhe é dado para assumir
sua posição de ‘crente’ e carregar a cruz. Sem esse amor (Phileo) não se
carrega a cruz de Cristo. Significa: “gostar muito de alguém”, “querer viver
com o outro”, “relacionamento”, “compromisso”, “amizade”, “pacto e amor”,
enfim, “relacionamento”.
Jesus então, com a terceira pergunta, não
quis saber de Pedro se o mesmo era simplesmente um cristão definido e
convencido da verdade, mas quis saber se Pedro o amava a ponto de andar com
Ele, se relacionar com Ele, ser amigo, ser íntimo, morrer pelo nome dele.
Isso
entristeceu Pedro. Por certo, Pedro não se sentia ainda preparado. Poderíamos
conjecturar que Pedro caiu em si nesse momento e viu que não era tão fácil à
carreira que havia sido-lhe proposta.
Jesus perguntava dessa forma: “Pedro, quer
ser meu amigo” ou “quer ter um relacionamento comigo” ou até mesmo “Pedro, quer
viver só para mim”? Responder a essa pergunta é difícil demais... Pedro nessa
hora foi confrontado. Pois seu amor ainda não era um amor capaz de fazê-lo
renunciar tudo (inclusive a vida) para viver a vida de Cristo. Mas, seu coração
se fez humilde e o seu homem interior já quebrantado com a presença de Deus
disse: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”. Pois era isso que
Pedro, mesmo não sendo tão capaz, queria.
Ele tinha o desejo de servir ao Senhor com toda
a sua alma e entendimento. Foi assim também com Davi no salmo 139:23:
“sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; prova-me e conhece os meus
pensamentos”. Inclusive, na terceira pergunta Jesus se dirigiu mais
intimamente, tocou na identidade de Pedro: “Simão, filho de Jonas”. Só quem
teve a identidade confrontada um dia pelo Espírito Santo, pode realizar a obra
do Senhor, fazendo a sua vontade e dele ser amigo. Na terceira pergunta, quando
Jesus usava a expressão "Phileo" e perguntava Pedro se esse queria,
de fato, um relacionamento com Ele, Pedro se via incapaz de tal voluntariedade
e é nesse momento que a graça de Deus se mostra, pois, sem dúvidas, é Deus quem
nos escolhe e não nós a Deus.
Mas, antes, há a remissão dos pecados, logo,
o chamado para o serviço na obra de Deus. A resposta de Pedro ("senhor tu
sabes tudo") mostra exatamente o seguinte: Deus conhece o que há e o que
se passa em nós e apenas o seu poder remidor é capaz de restaurar e vivificar,
de fato, o nosso coração. A tristeza de Pedro não foi vã diante da terceira
pergunta. O verdadeiro arrependimento é marcado pela tristeza, aliás, a
tristeza gera o arrependimento e, com Pedro, não foi diferente: para cuidar das
coisas de Deus e estar inserido em seu plano e participar do seu Reino, o velho
Pedro teria que morrer e um novo Pedro ressurgir. Não foi sem querer que Jesus
disse o nome e, ainda, citou a origem de Pedro. Ele queria mostrar que o Pedro
pescador ainda estava ali. Mas Jesus queria gerar em Pedro um novo viver.
Uma curiosidade: Jonas significa Pomba, uma
tipologia do Espírito Santo. Quem tem nos gerado para uma nova vida? Se
nascermos da água e do Espírito estamos prontos para apascentar (trabalhar para
o nosso Senhor). Para respondermos a pergunta que Jesus fez a Pedro, devemos
estar cheios da benção do Espírito Santo e viver em renovação, em novidade de
vida.
O amor que Deus quer do homem é o amor Phileo.
Ele quer que o homem se relacione com Ele, tenha um compromisso com ele, seja
amigo dele.
“Já
não vos chamarei servos [...] mas tenho vos chamado amigos [...]” (João 15:15)
É com esse amor que estaremos aptos para
atender a vontade de Deus e cumprir o seu chamado em nossas vidas: “Apascenta
as minhas ovelhas”. É um compromisso selado.
É com esse amor que podemos ser instrumentos
do Senhor; é com este amor que caminhamos em intimidade com Deus e em comunhão
com o Espírito Santo. É com esse amor que entendemos o que, de fato, é a obra
do Espírito e quão suave ela é. No versículo 18 do capitulo 21 de João, Jesus
ainda dá pistas a Pedro de como ele morreria pelo Evangelho e ainda diz no
verso 19: “segue-me”.
Jesus tem chamado para sua boa obra pessoas
que vão o amar e honrar com suas próprias vidas, Ele tem chamado pessoas que
vão (de verdade) renunciar a tudo pelo amor de seu Nome.
Independente das respostas de Pedro e das
perguntas de Jesus nas três oportunidades, o pedido do Senhor foi o mesmo:
APASCENTA OS MEUS CORDEIROS. O Senhor nos chamou para viver em favor de seu
Reino e isso requer TRABALHO e serviço. Apascentar cordeiros era o chamado
específico de Pedro. Deus, da mesma forma, tem um chamado específico para cada
um de nós. Temos que realizar a obra...
Mas isso só será possível se estivermos
firmes no amor ‘Phileo’, a saber, no amor de Cristo e no genuíno envolvimento
com as questões do Reino.
Paulo, ao dizer que “aquilo que o ouvido não
ouviu, nem o olho viu e o que não subiu ao coração do homem é o que Deus tem
preparado”, ele quis mostrar que: Tudo que o Senhor tem preparado para aqueles
que o amam está longe da pura razão e da limitação humana, mas, para aqueles
que vivem no amor ‘Phileo’, íntimo e amigos de Deus, receberão com certeza.